terça-feira, 31 de julho de 2007

Escuta, Zé Ninguém!

Bom, como nada postei neste mês de julho, só para não ficar em branco, segue um texto de Wilhelm Reich. Uma crítica ao homem...

Mas o tema do Blog não é Graça? Por isso eu digo que este texto tem tuda a ver com o tema, em suas entrelinhas. :)

Fiquem nEle..

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Escuta, Zé Ninguém!

Chamam-te “Zé Ninguém!” “Homem Comum” e, ao que dizem, começou a tua era, a “Era do Homem Comum”. Mas não és tu que o dizes, Zé Ninguém, são eles, os vice-presidentes das grandes nações, os importantes dirigentes do proletariado, os filhos da burguesia arrependidos, os homens de Estado e os filósofos. Dão-te o futuro, mas não te perguntam pelo passado.

Tu és herdeiro de um passado terrível. A tua herança queima-te as mãos, e sou eu que to digo. A verdade é que todo o médico, sapateiro, mecânico ou educador que queira trabalhar e ganhar o seu pão deve conhecer as suas limitações. Há algumas décadas, tu, Zé Ninguém, começaste a penetrar no governo da Terra. O futuro.da raça humana depende, à partir de agora, da maneira como pensas e ages. Porém, nem os teus mestres nem os teus senhores te dizem como realmente pensas e és, ninguém ousa dirigir-te a única critica que te podia tornar apto a ser inabalável senhor dos teus destinos. És “livre” apenas num sentido: livre da educação que te permitiria conduzires a tua vida como te aprouvesse, acima da autocrítica.

Nunca te ouvi queixar: “Vocês promovem-me a futuro senhor de mim próprio e do meu mundo, mas não me dizem como fazê-lo e não me apontam erros no que penso e faço”.

Deixas que os homens no poder o assumam em teu nome. Mas tu mesmo nada dizes. Conferes aos homens que detêm o poder, quando não o conferes a importantes mal intencionados, mais poder ainda para te representarem. E só demasiado tarde reconheces que te enganaram uma vez mais.

Mas eu entendo-te. Vezes sem conta te vi nu, psíquica e fisicamente nu, sem máscara, sem opção, sem voto, sem aquilo que fiz de ti “membro do povo”. Nu como um recém-nascido ou um general em cuecas. Ouvi então os teus prantos e lamúrias, ouvi-te os apelos e esperanças, os teus amores e desditas. Conheço-te e entendo-te. E vou dizer-te quem és, Zé Ninguém, porque acredito na grandeza do teu futuro, que sem dúvida te pertencerá. Por isso mesmo, antes de tudo o mais, olha para ti. Vê-te como realmente és. Ouve o que nenhum dos teus chefes ou representantes se atreve a dizer-te:

És o “homem médio”, o “homem comum”. Repara bem no significado destas palavras: “médio” e “comum”.

Não fujas. Tem ânimo e contempla-te. “Que direito tem este tipo de dizer-me o que quer que seja?” Leio esta pergunta nos teus olhos-amedrontados. Ouço-a na sua impertinência, Zé Ninguém. Tens medo de olhar para ti próprio, tens medo da crítica, tal como tens medo do poder que te prometem e que não saberias usar. Nem te atreves a pensar que poderias ser diferente: livre em vez de deprimido, direto em vez de cauteloso, amando às claras e não mais como um ladrão na noite. Tu mesmo te desprezas, Zé Ninguém, Dizes: “Quem sou eu para ter opinião própria, para decidir da minha própria vida e ter o mundo por meu?” E tens razão: Quem és tu para reclamar direitos sobre a tua vida? Deixa-me dizer-te.

Diferes dos grandes homens que verdadeiramente o são apenas num ponto: todo o grande homem foi outrora um Zé Ninguém que desenvolveu apenas uma outra qualidade: a de reconhecer as áreas em que havia limitações e estreiteza no seu modo de pensar e agir. Através de qualquer tarefa que o apaixonasse, aprendeu a sentir cada vez melhor aquilo em que a sua pequenez e mediocridade ameaçavam a sua felicidade. O grande homem é, pois, aquele que reconhece quando e em que é pequeno. O homem pequeno é aquele que não reconhece a sua pequenez e teme reconhecê-la; que procura mascarar a sua tacanhez e estreiteza de vistas com ilusões de força e grandeza, força e grandeza alheias. Que se orgulha dos seus grandes generais, mas não de si próprio. Que admira as idéias que não teve, mas nunca as que teve. Que acredita mais arraigadamente nas coisas que menos entende, e que não acredita no que quer que lhe pareça fácil de assimilar.

Comecemos pelo Zé Ninguém que habita em mim: Durante vinte e cinco anos tomei a defesa, em palavras e por escrito, do direito do homem comum à felicidade neste mundo; acusei-te pois da incapacidade de agarrar o que te pertence, de preservar o que conquistaste nas sangrentas barricadas de Paris e Viena, na luta pela Independência americana ou na revolução russa. Paris foi dar a Pétain e Laval, Viena a Hitler, a tua Rússia a Stalin, e a tua América bem poderia conduzir a um regime KKK – Ku-Klux-Klan. Sabes melhor lutar pela tua liberdade que preservá-la para ti e para os outros. Isto eu sempre soube. O que não entendia, porém, era porque de cada vez que tentavas penosamente arrastar-te para fora de um lameiro acabavas por cair noutra ainda pior. Depois, pouco a pouco, às apalpadelas e olhando prudentemente em torno, entendi o que te escraviza: ÉS TU O TEU PRÓPRIO NEGREIRO. A verdade diz que mais ninguém senão tu é culpado da tua escravatura. Mais ninguém, sou eu que te digo!

sábado, 30 de junho de 2007

Truman´s de consciência.

Essa semana comecei a lembrar do filme "O Show de Truman". Apesar de não recordar dos detalhes, consegui resgatar na memória algumas coisas... e me deu até vontade de revê-lo por isso.

O filme acaba no momento em que ele sai da cúpula onde viveu a vida inteira, enganado por todos ao seu redor, numa trama que conseguiu segurá-lo até aquele momento naquele mundo de fantasia.

Naquela cúpula ele cresceu, viveu, estudou, conheceu sua esposa, filhos, tinha emprego, alimentação... nada lhe faltava e tudo que uma pessoa espera ter, ele tinha. Mas algo ainda o incomodava.

Por mais que ele achasse que fazia suas escolhas, todos os seus passos eram decididos pelos diretores do programa para ele - incluindo, a própria esposa.

Todo o enredo criado pelos autores do reality show conseguia segurá-lo naquela cidade pelos medos que foram gerados nele, que o fazia se conformar em viver naquela clausura. Mesmo assim nunca perdeu a inquietação no seu coração de que havia algo além daquele mar... algo além daquela estrada. Um mundo que havia sido negado a ele.

Algumas vezes ele até tentou sair, mas a cada tentativa uma nova tragédia o traumatizava ainda mais, com a ajuda das palavras de desencorajamento dos que viviam ao seu redor.

Então, entre os telespectadores, começou a surgir aqueles que torciam por sua liberdade. Mas também havia os que diziam: "Qual o problema nisso? Qual o problema de manter o Truman ali dentro? Afinal, ele é feliz, tem o que quer... emprego, família, casa, "amigos"... não vejo problema algum".

Conforme algumas coisas estranhas iam acontecendo, que para sua percepção ia sendo revelada uma possível farsa, essa inquietação cresceu de tal maneira que ele não poderia continuar vivendo ali sem arriscar e ir atrás da verdade.

Nisso, contra todas as dificuldades ele finalmente conseguiu chegar a saída daquela redoma, no fim do mar que todos lhe diziam ser intransponível. Mas ali, diante da revelação, o que será que passou por sua cabeça? O que antes era apenas uma desconfiança, se provou real.

Truman viveu numa "prisão" física, no mundinho inventado para ele, mas não raramente há vários outros mundinhos onde fisicamente a pessoa pode até estar livre, mas sua consciência está tão presa quanto Truman.

Quando os "Truman´s de consciência" descobrem a saída da cúpula onde viveram, o que esperar deles? Mágoa pelo tempo de engano ou felicidade pela nova revelação?

O filme não mostra o que acontece depois da libertação de Truman nem sua postura depois de livre, mas optar pela mágoa só o tornaria um fisicamente livre, porém, com o coração ainda
dentro da redoma. E pelo que tenho sentido, essa é a escolha da maioria.

Como Paulo escreveu aos Gálatas: "Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais de novo a jugo de escravidão."

De um "Truman" para outros...

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Sacerdote, Levita ou Samaritano?

Domingo passado estava eu saindo de casa para ir na reunião da Estação já um pouco atrasado. Entrei no carro, liguei e me lembrei que tinha que ver a água. Desliguei, abri o capot, e realmente o carro estava totalmente seco. Resolvi voltar em casa para pegar uma garrafa.

Na hora que eu estava abrindo a porta, me chamou um homem e perguntou: "Olha, será que você não pode me arrumar um emprego ou me indicar um? Pode ser de faxineiro, pedreiro, pintor... qualquer coisa!" Eu pensei um pouco, mas como não encontrava nada como resposta, disse que não poderia ajudar. Nisto ele começou a contar sua vida, da dificuldade da sobrevivência, das necessidades que vinha passando, dos filhos em casa, dos choros por não conseguir um emprego e sustentar a família, e de sua esperança de que Deus o iria ajudar e era com ele.

Enquanto ele falava, em um momento cheguei a pensar: "Poxa, já estou atrasado para a reunião." Mas logo lembrei da parábola do bom samaritano e vi a tamanha religiosidade de tal pensamento. Neste momento esqueci da reunião e busquei dar a atenção que ele precisava.

Assim como o sacerdote e o levita estavam mais preocupados com os seus afazeres religiosos no templo do que com a necessidade daquele homem caído ao chão, muitas vezes caímos no engano que mais importante é estar em um culto, missa, reunião, seja lá o que for... do que mudar nossos planos e caminho em direção a igreja para ajudar alguém que nos pare precisando de ajuda. E ainda achamos que assim estamos agradando a Deus, porque provamos nosso desejo que Ele é nossa prioridade na vida, porque preferimos estar em "Sua casa" a desviarmos nosso caminho por um necessitado qualquer.

Esquecemo-nos que Ele é prioridade em nossas vidas quando damos prioridade à vida, e não a "reuniões sagradas". Mais importante para Jesus é que vivamos em amor, compadecendo-nos dos necessitados, e que tal compaixão seja capaz de até mudarmos nossos planos para ir de encontro a carência do próximo, do que simplesmente ir em algum lugar falar e escutar sobre Ele. É só olhar o que Jesus mesmo viveu.

Não estou tirando a importância da comunhão, claro! Mas se a comunhão que participamos toda semana, ou até mais, não for gerando tal sensibilidade em nosso coração, pouca coisa temos aproveitado.

No final, acabei não conseguindo o emprego mas o ajudei dentro do que podia no momento. Cheguei na Estação e a reunião ainda não tinha começado... e portanto, nada foi perdido. E mesmo que algo tivesse sido perdido, não importa. A prioridade do Pai é sempre a vida... para Ele, a única coisa sagrada neste mundo é a vida. :)

Fiquem nEle...

terça-feira, 12 de junho de 2007

Coisas de menino...

Paulo disse:

"Porque o pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei, e, sim, da graça."

"Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê."

A graça substituiu a lei. Mas qual a lei da graça?

"A ninguém fiqueis devendo cousa alguma, exceto o amor com que vos ameis uns aos outros: pois quem ama ao próximo tem cumprido a lei. Pois isto: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não cobiçarás, e se há qualquer outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor."

No caso, um mundo que ama não precisa de lei? Essa pergunta veio como um choque sobre mim! Poxa... um mundo fundado no amor não precisaria de leis! Que doideira!! hehe Fiquei fascinado com isso. MAs será que isso realmente é verdade? "Pai, me mostra de forma clara para eu entender melhor" foi o que pedi.

Bom, nisto comecei a lembrar de quando eu era menor... período em que achava que irmão só servia para atrapalhar, para encher o saco, para ter que dividir as coisas... bem coisa de irmão mais velho que acha que por ter vindo primeiro bem poderia ter sido o único para ficar com tudo sem ter que dividir nada... brinquedos, atenção, e outras coisas. :)

Nesta época eu e meus dois irmãos brigávamos muito, e há pouco tempo minha prima Cris fez um comentário que eu desconhecia, dizendo que minha mãe muitas vezes deixava de sair com receio de que sozinhos nos atracássemos sem ter ninguém para separar. Logo, para que a convivência fosse possível, era necessário a imposição de algumas regras.

Nisto fui fazendo uma comparação com a forma que vejo meus irmãos hoje, e percebendo que mesmo que fique meses em um cubículo com ambos, não teríamos o mínimo problema. E por quê? Porque hoje eu os amo. E onde há amor, há respeito, há abnegação, há tudo. :)

"Quando, porém, vier o que é perfeito, então o que é em parte será aniquilado."

Se o que é perfeito entra nos nossos corações, todo o egoísmo, rivalidade, indiferença... tudo que é imperfeito deixa de fazer sentido e desaparece.

Certo dia fui compartilhar isso com uma amiga, no que ela me disse: "Ahhh, mas isso é coisa de criança. É normal". O problema não é as crianças se comportarem desta forma, e sim continuarmos nos comportando como se não tivéssemos amadurecido nada. Porque é exatamente assim como muitas vezes percebemos o nosso próximo. Percebemos o próximo como alguém que está ali pra nos superar, para atrapalhar, para ter que dividir... no caso, somos uma sociedade sem amor e que ainda tem visão de criança.

"Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino; quando cheguei a ser homem, desisti das cousas próprias de menino."

O que é ser maduro? Só o amor é perfeito, e qualquer busca sem o objetivo de crescer no amor é coisa de criança. Só nos tornamos homens quando amamos, logo, será que realmente queremos ser homens? Será que realmente queremos deixar as coisas de menino? Não há nada mais desprezado do que o amor hoje em dia... e talvez por isso, estamos vendo a sociedade clamar por leis mais severas para conter a infantilidade da humanidade.

Mas calma aí! Vou fazer uma pergunta: Conseguem perceber que amor e lei são inversamente proporcionais? Na verdade, a lei serve para conter a falta de amor, dando consciência de nosso delito, sendo no caso, boa. Porém, acaba servindo como termômetro de nossa frieza. Quem ama, está acima da lei e por isso a torna obsoleta e desnecessária. Por que será então que depois de casos como o do João Hélio ficamos tão interessados em leis mais severas... mais duras?

Clamamos por mais leis, mas não nos dispomos a amar. É apenas o reflexo da nossa indignação que deseja vingança, não porque temos sede de justiça, mas porque temos medo de sermos alcançados pelas vítimas da nossa indiferença.

Mas será "medo"? "O amor lança fora todo o medo", logo, a ausência dele gera medo. "O amor se esfriará nos últimos dias", e o que surgirá como conseqüência? A bíblia diz que a iniquidade se multiplicaria, mas também o medo. Uma sociedade iníqua vive amendrotada pela falta de amor que possui. E isso é tão claro já nos nossos dias, que fica relativamente fácil fazer uma projeção futura:

Aqueles que tem algo a preservar neste mundo já estão abrindo mão da privacidade em vários locais em troca de "segurança". Mas e quando se tornar impossível andar em qualquer lugar?
Quando o medo e insegurança imperam, o homem abre mão até da própria liberdade. Será que fica difícil aceitar a possibilidade que num futuro próximo clamaremos por um governo Autoritário Global(com leis rígidas e monitoramento total), abrindo mão de nossa liberdade e privacidade em busca de segurança? Muitos tem falado sobre isso, mas só agora está se tornando claro para mim.

Bom, não quero passar a impressão nem digo que sou "a pessoa que ama", mas simplesmente alguém que percebeu que crescer neste entendimento é o que nos realiza como seres humanos.
Sempre negligenciei muito a importância do amor na minha vida, e estou apenas começando a trilhar meus passos neste caminho. Sou apenas um bebê na nova vida em Graça, com muito a aprender... e como!

Caminhar em tal estrada não é apenas falar sobre o tema, mas é praticar optando por usar a ótica do amor em cada situação da vida - ô caminho difícil! É este o chamado "caminho estreito" e, lógico, tendemos a preferir o caminho largo. Tal caminho dói muitas vezes, porque é uma afronta ao nosso egoísmo, orgulho, preservação... mas no final, quando conseguimos, paz e alegria são as recompensas de nossa alma.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Vaidade de ser *

Texto do Caio(www.caiofabio.com)... reflitam. :)

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Falar de vaidade é falar da existência, pois, tudo é vaidade.

Não apenas a juventude e a primavera da vida, mas tudo o mais que concerne à existência, em qualquer fase, tempo ou idade, de acordo com o diagnóstico filosófico do Eclesiastes, é vaidade.

“Todo homem, por mais firme que seja, é vaidade” — decreta o salmo.

Corremos por vaidade. Produzimos por vaidade. Conquistamos por vaidade. Desejamos pessoas e coisas por vaidade. Sonhamos vaidades. Cantamos vaidades. Narramos vaidades. Sofremos vaidades.

Assim, nossas lágrimas são vaidades e nossas gargalhadas mais ainda. Afinal, quem vive sem os fugazes gostos da vaidade?

O melhor de nós que esteja é pé, se em pé aparenta estar, o está apenas pelo inflamento de vento de nada e que o incha de vaidade.

Até nossas melhores intenções são vaidades. Sim, nossas virtudes mais sinceras ainda são como jazida de minério preciso penetrado de lama, terra e cascalho.

Disfarçamos tudo muito bem. Sim, para que nossas vaidades não se tornem feias de mais aos sentidos de todos, escondemo-las muito bem. Mascaradas de amor ao próximo, de missão social e cívica, de solidariedade, de campanhas pela paz, de fervor religioso, de cruzada moral e ética, de pureza doutrinária, de ação social e educacional, de piedade devocional, de dedicação às causas altruístas, de tudo o que puder passar por bom ou melhor...

Mas lá no fundo lateja a vaidade!

Assim, todas as nossas justiças são como trapo de imundícia, e, portanto, quem se enxerga já não se gloria de nada; pois diz: “Senhor me salva das minhas virtudes, para que elas não te sejam o culto do louco!”.

Há, porventura, entre os que me lêem alguém que deseje me contestar, dizendo: “Ah! Eu não! Eu não sou vaidade”?

Se não há, então, pode ainda haver salvação para nós. Ora, isso se a consciência se tornar humilde e verdadeira no serviço à verdade, e que começa por nos declarar irredimível vaidade.

Minha salvação está na minha admissão sincera de total perdição ante os olhos do Santo.

Por tal admissão eu recebo Graça todos os dias. Especialmente nos dias quando venço meu engano de me achar melhor então do que antes.

Na minha força é que preciso mais e mais de minha fraqueza. A fraqueza é o melhor antídoto contra a vaidade como virtude; e que é a forma de vaidade que o diabo mais gosta de encontrar em mim.

Nele, cuja vida foi a única fora do serviço à vaidade,


Caio

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Profecias... no devido lugar.

Não raramente se vê nas igrejas uma sede por profecias. Se aparece um irmão profeta, sempre tem alguém querendo saber sobre o futuro. Eu mesmo, não lembro de já ter recebido uma profecia detalhada, e no início até sentia falta. Sobre ministério? Bem.. Uma amiga chegou a me contar algo; uma outra amiga disse que sabia meu ministério apesar de não querer contar. Na época eu até quis saber, mas hoje... não me importo.

Mas por que falo isso? Porque a gente sempre quer ver um horizonte no nosso futuro e eu não era diferente. Porém, atualmente meu foco acabou virando o Hoje.

Bem, profecias - se verdadeiras - são bençãos de Deus, mas não podemos viver em cima delas, nem direcionados por elas. Temos que simplesmente viver, fazendo conforme nosso coração e, sendo de Deus, elas se realizarão. Deixe o amanhã pro amanhã, pois a única coisa que realmente temos é o agora.

Bom, um dia estava meditando e começei a pensar sobre realização. Fiquei pensando em como as pessoas projetam tanto sobre coisas a serem concretizadas, para então se sentirem realizadas. Entretanto, enquanto projetamos realizações, a realização sempre estará no futuro, e não no Hoje. As pessoas nunca se sentirão realizadas, porque na concretização de algo, sempre vem outro sonho a seguir. O ser humano precisa de sonhos, mas não pode colocar seu coração neles, mas sim, no caminho até eles. O que nos impede de sermos realizados hoje? Tudo já está consumado... :) Essa é nossa realização! O Pai nos chama no dia chamado Hoje, e no Hoje todas as coisas estão terminadas, mesmo que ainda não possam ser vistas. E o que é a fé, senão isso?

Um bom exemplo é a perfeição. Quem está em Cristo, tem como meta a perfeição, afinal, deseja ser como Cristo. Porém, sabemos que não somos perfeitos e nunca alcançaremos tal meta nesta vida. Desanimaremos? Não, porque a fé nos mostra que através de Cristo tal objetivo já está concretizado, e somos perfeitos hoje, mesmo que estejamos ainda em processo. É o paradoxo do Evangelho: somos, mesmo ainda em processo de ser; chegamos ao destino, mesmo que ainda esteja no meio do caminho. Tudo isso porque somos em Cristo, e não por nós mesmos.

Pela fé, mesmo que as promessas ou as coisas que serão feitas de nós não estiverem prontas, já foram realizadas e, logo, realizados são os que vivem pela fé! Não pelo que se tem hoje, mas porque o próprio Espírito testifica em nosso espírito que Ele terminará a boa obra que começou. E se terminará, pela certeza que temos no nosso coração gerada pela fé, que é dom de Deus, e não nosso, a conseqüência natural é a alegria neste caminho até a consumação dos séculos, a cada dia, vivendo o que está ao nosso alcance em amor. Não há realização maior que essa, pois nada pode trazer maior paz e alegria. Isso é já estar na eternidade, mesmo que ainda estejamos neste corpo de morte!

Viva pela fé, guarde as profecias no coração, e se regozige quando cada uma delas se realizar. Mas não viva em função delas... O que é de Deus, se cumpre... o que é do homem, nem sempre. Mas a certeza de que a vontade dEle prevalece deve ser sempre nosso "porto seguro".

sábado, 2 de junho de 2007

Carta a Diagoneto *

Abaixo vai uma carta datada entre os séculos II e III d.C, de um cristão anônimo para seu amigo Diagoneto, um pagão que queria saber mais sobre a mais falada "seita" da época.

Achei simplesmente maravilhosa, porque mostra a visão cristã da igreja primitiva, antes dela conhecer qualquer poder deste mundo, seja financeiro ou político.

Quantos de nós podemos definir tão bem o que é ser de Jesus, mesmo depois de 18 séculos terem se passado? Será que progredimos ou regredimos? Busquem a resposta na igreja atual... e, principalmente, em si próprios. :)

Fiquem nEle...


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"Os cristãos não se distinguem dos demais homens nem pelo território, nem pela língua que falam, nem pelo modo de vestir. Não se isolam em suas cidades, nem usam uma linguagem particular, nem levam um gênero de vida especial.

A sua doutrina não é conquista do gênio inquieto de homem perscrutadores; nem professam, como fazem alguns, um sistema filosófico humano. Vivendo em cidades gregas ou bárbaras (estrangeiras), conforme a sorte reserva a cada um, e adaptando-se às tradições locais quanto às roupas, à alimentação e a tudo o mais da vida, dão exemplo de um estilo próprio de vida social maravilhosa, que, segundo a confissão de todos, tem em si qualquer coisa de incrível.

Vivem em sua respectiva pátria, mas como estrangeiros. Participam de todos os deveres como cidadãos e suportam as obrigações como estrangeiros. Qualquer terra estrangeira é pátria para eles e qualquer pátria lhes é terra estrangeira. Casam-se como todos os outros e geram filhos, mas não os abandonam. Têm em comum a mesa, mas não o leito. Vivem na carne, mas não segundo a carne. Passam sua vida na terra, mas são cidadãos do céu.

Observam as leis estabelecidas, mas com seu modo de vida as superam. Amam a todos e por todos são perseguidos. Não são conhecidos e são condenados. Dá-se-lhes a morte, e eles dela recebem a vida. São pobres, mas a muitos tornam ricos. Nada possuem, mas tudo têm em abundância. São desprezados, mas encontram no desprezo a glória diante de Deus. Ultraja-se a sua honra e acrescenta-se testemunho à sua inocência.

Insultados, abençoam. Demonstram-se insolentes com eles, e eles tratam-nos com respeito. Fazem o bem e são punidos como malfeitores. E punidos, gozam, como se lhes dessem vida. Os judeus fazem-lhes guerra como raça estrangeira. Os Gregos perseguem-nos, mas aqueles que os odeiam não sabem dizer o motivo de seu ódio.

Para dizer com uma só palavra, os cristãos estão no mundo como a alma está no corpo. Como a alma difunde-se por todas as partes do corpo, assim também os cristãos estão disseminados pelas várias cidades do mundo. A alma habita o corpo, mas não provém do corpo: também os cristãos habitam no mundo, mas não provém do mundo. A alma invisível está encerrada num corpo visível; também os cristãos, sabe-se que estão no mundo, mas a sua piedade permanece invisível.

Como a carne odeia a alma e faz-lhe guerra, sem ter recebido qualquer ofensa, mas só porque lhe proíbe gozar dos prazeres, também o mundo odeia os cristãos que não lhe fizeram qualquer coisa de errado, só porque se opõem ao sistema de vida fundado no prazer.

A alma ama à carne, que a odeia, e aos membros; os cristãos igualmente amam aqueles que os odeiam. A alma está encerrada no corpo, mas ela própria sustenta o corpo; também os cristãos são retidos no mundo como numa prisão, mas eles próprios sustentam o mundo. A alma imortal habita numa tenda mortal, também os cristãos moram como peregrinos entre as coisas que se corrompem, à espera da incorruptibilidade dos céus.

Mortificando-se nos alimentos e nas bebidas, a alma se faz melhor; igualmente os cristãos, punidos, multiplicam-se dia a dia. Deus deu-lhes um lugar tão sublime, que não devem absolutamente abandonar."